ECONOMIA

Crise do metanol derruba em 31% o consumo de bebidas destiladas em São Paulo

Vodca registra queda de quase 38% nas vendas; clima e medo da contaminação ajudam a frear o consumo

O consumo de bebidas destiladas, como vodca, uísque, gim e cachaça, despencou 31% no Estado de São Paulo na última semana em comparação com o mesmo período de 2024.
Os dados são da Varejo360, empresa que monitora a emissão de notas fiscais de mais de 33,7 mil pontos de venda.

A retração ocorre em meio à crise de contaminação por metanol, que já provocou mortes e internações no estado. Desde o fim de setembro, operações da polícia e do Ministério da Justiça têm fechado fábricas e apreendido bebidas adulteradas — o que acendeu um alerta vermelho entre os consumidores.

Vodca lidera queda nas vendas

Entre os destilados, a vodca foi a mais afetada, com queda de 37,8% nas compras. O produto está no centro das investigações e foi o tipo de bebida mais citado em casos de intoxicação por metanol.

De acordo com Fernando Faro, diretor de operações da Varejo360, a preocupação do público é evidente:

“Acredito que a queda nas duas últimas semanas tem total relação com a crise do metanol. A venda de vinho, por exemplo, ficou estável. As pessoas estão evitando comprar destilados.”

Impacto imediato e retração contínua

O movimento de queda começou ainda na semana do anúncio da crise, entre 21 e 27 de setembro, segundo Faro. Até a quarta-feira daquela semana, as vendas seguiam estáveis — mas despencaram a partir da quinta-feira, após a repercussão das primeiras mortes e o início das apreensões de bebidas irregulares.

“O consumo já vinha caindo por causa da inflação e do poder aquisitivo, mas não nessas taxas”, explica o executivo.

As informações da Varejo360 abrangem adegas, lojas de conveniência, supermercados e varejistas, refletindo uma retração generalizada no varejo paulista.

Setor evita falar sobre o tema

Fabricantes e distribuidores de bebidas têm preferido o silêncio. Nenhuma grande empresa do setor se pronunciou oficialmente sobre o impacto da crise.
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) não responderam à reportagem.

Já a Abrasel, que representa bares e restaurantes, diz que o impacto ainda é limitado.
Segundo uma pesquisa interna, apenas 26% dos estabelecimentos relataram queda no faturamento no último fim de semana.

“A confiança do consumidor segue mantida, apesar das notícias sobre adulteração”, informou a entidade em nota.

Frio prolongado e clima também pesam

Além do medo da contaminação, o clima frio e atípico para a época também contribuiu para a queda nas vendas de bebidas alcoólicas.

“O consumo de cerveja é muito atrelado ao calor. Nas últimas semanas, fez frio, e parte da queda se explica por isso”, comenta Faro.

A cerveja teve retração de 16,2% nas notas fiscais analisadas pela Varejo360.
Enquanto isso, o vinho se manteve estável — um reflexo direto das temperaturas mais baixas entre julho e agosto, que tradicionalmente impulsionam o consumo da bebida.

Mercado em alerta

A crise do metanol reacendeu debates sobre controle de qualidade, rastreabilidade e fiscalização no setor de bebidas.
Autoridades estaduais reforçaram as operações de vigilância sanitária e o bloqueio de lotes suspeitos.
Enquanto isso, comerciantes e consumidores tentam se adaptar ao cenário de desconfiança e queda nas vendas.

Fonte: CNN Brasil

Rolar para cima