Impasse entre Holanda e China sobre a Nexperia agrava crise dos chips

A Nissan Motor e a Mercedes-Benz emitiram alertas nesta quarta-feira (30) sobre o agravamento da crise no fornecimento de semicondutores, em meio à disputa entre a Holanda e a China envolvendo a fabricante de chips Nexperia — um dos principais fornecedores da indústria automotiva global.

O impasse comercial e de propriedade intelectual entre os dois países amplia a instabilidade em um setor já afetado por tarifas norte-americanas, restrições chinesas de exportação de terras raras e crescentes tensões tecnológicas entre Oriente e Ocidente.

O conflito por trás da Nexperia

A crise teve início após o governo holandês assumir o controle da Nexperia em setembro, alegando preocupações de segurança nacional. A empresa, de capital chinês, é controlada pela Wingtech, companhia que os Estados Unidos classificaram como risco potencial à segurança global por conta da transferência de tecnologia sensível.

Como resposta, a China proibiu as exportações de produtos acabados da Nexperia fabricados em território chinês, interrompendo a cadeia de suprimentos de diversos setores — especialmente o automotivo.

“Não é uma questão pequena, é uma questão grande”, afirmou Guillaume Cartier, diretor de desempenho da Nissan, durante entrevista coletiva no Japan Mobility Show, em Tóquio.

Segundo ele, a montadora tem fornecimento garantido apenas até a primeira semana de novembro. “Temos alguma visibilidade junto aos nossos principais fornecedores, mas a situação se torna opaca no final da cadeia de suprimentos”, completou Cartier.

Mercedes-Benz busca novos fornecedores

A Mercedes-Benz também confirmou estar revisando sua cadeia de suprimentos global para reduzir a dependência da Nexperia.
O CEO Ola Kaellenius afirmou que “é difícil prever como a situação se desenrolará”, mas que a companhia já busca fornecedores alternativos em outros continentes.

O executivo destacou que o setor automotivo vive um momento crítico, e que qualquer interrupção prolongada pode comprometer metas de produção para o primeiro trimestre de 2026.

🇧🇷 Brasil teme paralisação nas montadoras

No Brasil, que abriga grandes fábricas de montadoras como Volkswagen, Nissan, Toyota e Mercedes-Benz, o impacto pode ser sentido já nas próximas semanas.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Industrial do MDIC, Uallace Moreira, algumas empresas podem paralisar suas linhas de produção em até três semanas caso o bloqueio chinês se mantenha.

“Estamos em contato com as autoridades chinesas para encontrar uma solução. O fornecimento de semicondutores é essencial para manter a produção automotiva nacional estável”, disse Moreira.

O governo brasileiro acompanha a situação de perto, já que o setor automotivo representa cerca de 22% do PIB industrial nacional e é um dos maiores empregadores da cadeia produtiva.

Uma nova fase da guerra tecnológica global

Especialistas apontam que o caso Nexperia marca um novo capítulo na guerra tecnológica entre China, EUA e Europa.
A disputa, antes restrita à produção de chips avançados e à corrida da inteligência artificial, agora atinge também os componentes básicos da indústria automotiva, como sensores e controladores de energia — peças essenciais para carros elétricos e híbridos.

O economista e analista industrial Renato Prado, da consultoria Atlas Supply Chain, afirma que o cenário “pode forçar uma realocação global das cadeias de semicondutores” e que o Brasil precisa “investir em autonomia tecnológica e diversificação de parceiros”.

Fonte: CNN Brasil

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