A história do Grindr nos últimos meses daria um episódio inteiro de série de negócios da Netflix. Tudo começou com uma proposta ousada: os acionistas majoritários Ray Zage e James Lu — que juntos controlam mais de 60% da empresa — decidiram lançar uma oferta de US$ 3,46 bilhões para fechar o capital do app. A ideia era simples no papel: pagar US$ 18 por ação, um prêmio gordo de 51%, tirar a empresa da Bolsa e tocar a operação com mais liberdade, sem aquela pressão diária de mercado.
Só que aí… tudo desandou.
O plano era bonito, mas o dinheiro… não aparecia
O Conselho de Administração criou um comitê especial só para analisar a proposta. E esse comitê fez justamente o que você imagina: abriu a lupa, analisou cada detalhe e pediu clareza sobre o financiamento da compra.
Resultado? Nada de clareza.
As promessas vinham, mas o dinheiro mesmo não aparecia com carimbo, assinatura e garantia concreta. Então o comitê concluiu que havia “incertezas quanto ao compromisso definitivo e à forma de financiamento”, e decidiu encerrar o assunto.
Em bom português:
“Bonito o plano de vocês, mas sem garantia de grana, não rola.”
Chad Cohen, presidente do Comitê Especial, soltou até comunicado oficial reforçando que seguir com a proposta não seria do interesse da companhia no momento. Para completar, ele lembrou que a empresa já está indo muito bem por conta própria — e com números para provar.
O Grindr tá forte — e isso pesou na decisão
No terceiro trimestre de 2025, o Grindr apresentou números que fariam qualquer investidor sorrir:
- US$ 116 milhões de receita (+30% em um ano)
- Lucro líquido de US$ 31 milhões (margem de 27%)
- EBITDA ajustado de US$ 55 milhões (margem de 47%)
- Projeção anual de EBITDA entre US$ 191 milhões e US$ 193 milhões
- Previsão de crescimento de receita de pelo menos 26% em 2025
Ou seja: o Grindr está imprimindo dinheiro de forma saudável — e com eficiência. Isso deixou o comitê ainda menos disposto a aceitar uma oferta cheia de pontos nebulosos.
E agora? Zage e Lu recuaram — mas não desistiram do jogo
Com a proposta oficialmente descartada, os dois acionistas majoritários voltaram atrás — mas não totalmente. Eles disseram que vão:
- Continuar comprando ações no mercado
- Pressionar a administração por recompra de ações
- E até por pagamento de dividendos
Ou seja: se não dá para fechar o capital agora… eles vão tentar aumentar seu controle e influenciar a empresa por outros caminhos.
Um pouco de contexto: de 2009 ao mundo
Criado em 2009, o Grindr virou um dos maiores apps do público LGBTQIA+, alcançando mais de 190 países. Em 2020, Zage e Lu compraram a empresa e, dois anos depois, lideraram sua abertura de capital em 2022. Desde então, continuam mandando e desmandando no conselho — com Zage Lu na presidência.
Agora, a novela ganhou mais um capítulo: a oferta bilionária que surgiu com força, empacou por falta de garantia e morreu na praia — pelo menos por enquanto.
Fonte: Startups


