
Imagine viver em um país onde os bancos centrais, ao invés de cobrar juros altos, cogitam até voltar a pagar você para tomar dinheiro emprestado. Parece estranho? Pois é mais ou menos isso que está acontecendo na Suíça.
👉 Nesta quinta-feira (19), o Banco Nacional Suíço (SNB) anunciou que sua taxa básica de juros agora está em 0% ao ano.
Mas o que isso significa na prática? E por que o mundo está de olho nessa decisão? Vamos por partes.
O que é a taxa básica de juros?
Antes de tudo, uma explicação rápida:
A taxa básica de juros é o principal instrumento que os bancos centrais usam para controlar a inflação e estimular (ou frear) a economia.
- Quando os juros estão altos 👉 o crédito fica caro 👉 as pessoas e empresas gastam menos 👉 a inflação tende a cair.
- Quando os juros estão baixos 👉 o crédito fica barato 👉 mais consumo e investimentos 👉 o crescimento econômico é estimulado.
No caso da Suíça, o corte de hoje foi de 0,25 ponto percentual, levando os juros de 0,25% para zero.
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Por que a Suíça cortou os juros para zero?
O motivo principal é a inflação muito baixa.
👉 No mês passado, os preços no país caíram 0,1%, a menor taxa de inflação dos últimos quatro anos.
👉 A meta de inflação do SNB é entre 0% e 2% ao ano, e eles estão ficando abaixo disso.
Resumindo: o Banco Central está preocupado que a economia esteja esfriando demais e os preços estejam caindo por tempo prolongado (o que chamamos de deflação, um problema sério para qualquer economia).
Vai ter juros negativos de novo?
Agora vem a parte que está gerando mais debate no mercado financeiro:
Sim, existe uma chance real de a Suíça voltar a adotar juros negativos nos próximos meses, algo que não acontece desde 2022.
Juros negativos significam que os bancos pagam para deixar dinheiro parado no Banco Central.
Também podem fazer com que o cidadão comum veja o banco cobrar para manter seu dinheiro aplicado.
Fundos de pensão, seguradoras e investidores institucionais sofrem bastante nesse cenário.
O próprio presidente do SNB, Martin Schlegel, deixou claro:
“Como banco central, você nunca pode excluir medidas. Mas o obstáculo é maior agora. Taxas negativas trariam desafios e efeitos colaterais importantes.”
Ou seja: não está no radar imediato, mas não está fora de cogitação se a economia piorar mais até setembro.
Como o mercado reagiu?
Logo após o anúncio:
- O franco suíço até se fortaleceu brevemente, mas depois voltou ao patamar anterior.
- O mercado agora calcula que há 53% de chance de novo corte de juros em setembro.
E mais: este foi o sexto corte consecutivo do SNB, sinal de que a Suíça realmente está tentando evitar uma recessão.
Por que o mundo está prestando atenção?
Porque não é só a Suíça que está ajustando a política monetária.
Em um só dia, tivemos várias movimentações de bancos centrais importantes:
País | Decisão |
---|---|
Suíça | Cortou os juros para 0% |
Noruega | Surpreendeu com o primeiro corte em 5 anos |
Inglaterra | Manteve os juros estáveis |
Estados Unidos | O Fed manteve os juros, mas sinalizou cortes no futuro |
Zona do Euro | Já tinha cortado os juros no começo do mês |
O recado global é claro:
Depois de anos de juros altos para controlar a inflação pós-pandemia, os bancos centrais estão começando a virar a chave para o estímulo.
Quais os riscos de juros negativos?
Se você acha que juros negativos parecem um sonho para quem toma crédito, saiba que o cenário não é tão simples.
Veja os principais problemas que o SNB e o mercado enxergam:
Desestímulo à poupança: Pessoas podem preferir gastar ou investir em ativos de risco, o que pode criar bolhas.
Pressão sobre os bancos: As margens de lucro das instituições financeiras diminuem, o que pode dificultar a concessão de crédito.
Impacto nos fundos de pensão: Menores retornos prejudicam aposentadorias futuras.
Risco de bolha imobiliária: Com crédito barato demais, o setor de imóveis pode inflar.
Por tudo isso, o presidente do SNB frisou que voltar ao território negativo não seria uma decisão tomada de forma leviana.
O que esperar para os próximos meses?
O Banco Nacional Suíço também revisou para baixo suas projeções de inflação para 2025, 2026 e 2027, reforçando o cenário de inflação controlada (ou até deflação).
O mercado agora vai acompanhar:
- A evolução da inflação nos próximos meses
- Os dados de crescimento da economia suíça
- O comportamento das economias globais, especialmente EUA e Europa
- A próxima reunião do SNB, prevista para setembro
Se a inflação continuar abaixo da meta e o crescimento econômico seguir fraco, as chances de mais um corte — e de juros negativos — aumentam.
E no Brasil? Tem algum reflexo?
De forma direta, não muito.
Mas indiretamente, as decisões de bancos centrais como o SNB, o Fed e o Banco Central Europeu ajudam a desenhar o clima de juros global.
Se o mundo todo começar a cortar juros mais rápido que o esperado, isso pode abrir espaço para o Banco Central brasileiro também aliviar a Selic mais adiante, principalmente se o dólar se manter sob controle.
Além disso, investidores globais podem mudar seus fluxos de capital, buscando países emergentes que ainda pagam juros mais altos (como o Brasil).
Conclusão: A Suíça está dando um sinal de alerta
A economia global está começando a mudar de fase.
Depois de um longo período de combate à inflação com juros altos, os primeiros sinais de preocupação com crescimento e deflação estão aparecendo, principalmente na Europa e agora na Suíça.
Para o investidor brasileiro ou curioso por economia, o movimento do SNB é um termômetro importante do que pode vir pela frente no cenário internacional.